Ontem ajudei a socorrer uma rapariga (na casa dos 20anos), pois tentou fazer um aborto em casa...
Não é algo que me choque pois infelizmente já lidei com "alguns" casos semelhantes, o problema são as mentalidades!!!
O aborto já é legal no nosso país, mas as pessoas esquecem-se que legal não é o mesmo que "vou ali fazer e já venho".
Existem principios e as mulheres são acompanhadas desde que chegam á unidade hospitalar por uma equipa (normalmente médico/a ginecologista/obstectra e psicologo/a), o/a médico/a ginecologista/obstectra terá como função perceber o estado de saúde da mãe e em que ponto se encontra a gestação (confirmação de gravidez/tempo de gestação decorrente). Por seu lado o/a psicologo/a tentará compreender as razões da mulher para querer abortar. É um processo complexo e depois da consulta a mulher tem 15dias para reflectir, depois volta e toma a sua decisão. Sempre com acompanhamento médico! Sempre!
Se se decidir pelo aborto serão efectuadas as práticas comuns e necessário neste caso.
Sei porque vi imensas vezes mulheres a quererem ser mães na segunda consulta, passados os 15dias concedidos! É um momento muito feliz.
Mas voltando ao caso:
A mulher estava com uma hemorragia, com febre alta (40º),hipotermia e provavelmente eclampsia.
Perfurou o útero com uma agulha de tricot (o famoso método, infelizmente), só que não pensou que já estava quase de 20 semanas e que não iria ser assim tão fácil como julgava.
Depois de lhe prestar os primeiros cuidados e depois de ter pedido para chamarem o INEM tentei perceber a gravidade da situação. Lastimável!
Depois do INEM chegar expliquei a situação deixei-os fazerem o seu trabalho (colocação de oxigénio, soro e monitorização) e de seguida fui-me embora. A minha ajuda estava concluida.
Claro que por força do hábito pedi para que depois me ligassem.
Passado duas horas a M. liga-me dizendo-me que a situação era bastante complicada, disse-me para eu ir lá tomar café com ela e que me explicava melhor. Lá fui ( tinha saído do trabalho á menos de 2h).
Depois de lá chegar e tomar café, subi ao núcleo para saber da situação. A R. disse-me o mesmo que a M. me tinha dito, infelizmente as coisas estavam muito complicadas.
Entrei com a M. no ganibete e fui falar com a rapariga. Ainda não lhe tinham feito nada, estavam á espera do resultado das análises e estava com medicação I/V. Tinham entretanto estancado a hemorragia como é lógico mas o pior para aquela rapariga ainda estava para vir.
Depois das ecografias, tomografia e análises estarem prontas decidiram leva-la para o bloco.
Passado algum tempo estava no recobro e com uma sentença: 70% de probalilidade de não voltar a engravidar.
Talvez com muita força de vontade e um golpe do destino esta rapariga um dia quando quiser muito consiga ser mãe...
Está agora a recuperar, mas aquela asneira, essa ela vai pagar em prestações para todo o sempre com muita pena nossa.
Ainda bem que todos os dias ali naquele mesmo piso nascem tantos bébés, ouvem-se tantos choros "pequeninos", existem tantos sorrisos e é ali que tantos casais choram pela primeira vez ao saberem que vão ser pais!
Ainda bem...